26 fevereiro 2009




o meu nome é robert bresson, dizem-me aqui,
como se nesta nomeação fugissem eles mesmos
do risco possível de serem este eu que eu sou.

o meu nome é robert bresson e ninguém nunca
filmou ou filmará como eu filmei, há poucos anos,
nessa escala inclemente que é a da eternidade.

o meu nome é robert bresson e nos bosques de bolonha,
nas mãos dos carteiristas de rua, no recorte aguçado de uma nota,
no olhar petrificado da gente comum que elegi em vida,
pulsa, nem mais nem menos, do que um trevo da sorte,
desenhado a película granitada nos rostos pálidos
e orgulhosos que, uma e outra vez e para sempre,
zombam de ti e assim, fixos e petrificados, zombam afinal

dessa coisa viscosa e infilmável que é a morte.