19 fevereiro 2009


ao virar do dia, encostado a uma caixa de electricidade, bebericando com uma réstea de vida nos olhos quase baços uma cerveja já morta. murro no abdómen.

a meio do almoço, comentando com o companheiro de repasto, por entre linguados mais ou menos grelhados, as suas mais recentes incidências médicas, em torno de expressões como quimioterapia, evolução das técnicas de diagnóstico e outras desgostosas coisas que com elas rimam. registo seco e objectivo, naturalista dir-se-ia. directo de direita no rosto.

pela manhã, algures numa conversa profissional não exactamente exaltante, ela tenta a relativização do assunto, por contraponto intuitivo à notícia recente da morte da mulher de um seu amigo próximo, na casa dos trinta anos. de súbito, as lágrimas irrompem, tomam o controlo do seu rosto e transbordam para o espaço delimitado por quatro paredes há-pouco-brancas-agora-já-escuras. gancho brutal de esquerda.

estão em todo o lado. contra estas outras falanges da ordem negra, a palavra de ordem: resistir.

porque resistir sempre foi, é, sempre será, uma forma de vencer a desalegria. de evitar ao menos o 'ko técnico'. porque o outro, 'o ko de facto', esse depende sempre de nós e do adversário. e este impôe respeito.