no outono/inverno de 1995 sofri dois acidentes, o primeiro de minha única e exclusiva responsabilidade - um gesto temerário que me deixou sequelas -, o segundo fruto de uma infeliz conjugação de más condições atmosféricas, uma árvore caída na estrada, falta de iluminação e a condução irresponsável de alguém que havia bebido mais do que a conta. em ambas, se assim se pode dizer, tive sorte.
a primeira, de que não gosto de falar e de que é do conhecimento de muito poucas pessoas, mesmo no meu círculo mais íntimo, é aquela que sempre me deu suores frios - aquele sentimento de 'voltar ao tempo / lugar dos acontecimentos' e, uma e outra vez, relembrar como tudo aconteceu, porque é que aconteceu, como se fosse possível reescrever a pequena história. penso que, quem já passou por situações complicadas, sabe exactamente do esquema mental e emocional, desgastante, espúrio, inconsequente na ordem dos factos mas nada inconsequente nos vincos que deixa na nossa pele interior, de que estou a falar.
ontem, 13 anos depois, voltei ao local onde tudo se passou.
olhos nos olhos, entre mim e mim, lá consegui ultrapassar o receio e, na companhia do meu pai (que adivinhou o que se passava comigo, uma vez que, também ele, relembra essa hora de almoço de um sábado de 1995), desci do carro, olhei o sítio de relance, respirei o ar frio de inverno, ergui o olhar para o azul dourado do céu destes dias de beira alta e fui tomar um café, num muito humilde cafézito de província.
esta foi a minha prenda de natal. na senda do que foi o meu ano 2008, parar, voltar atrás, reflectir, decidir, para melhor seguir em frente.
amigos, talvez seja esta a única forma de viver: não esquecer nada, mas ser capaz de sublimar tudo o que está para trás, apostando mais no dia de hoje, em vivê-lo de forma mais leve e mas intensa (não, não é contradição, longe disso..).
os fantasmas olham-se nos olhos. esta foi a minha prenda de natal. se a ela me refiro, mesmo que de forma algo abstracta, é porque me parece que vos pode ajudar. assim seja, são os meus sinceros votos.
uma vez mais: feliz natal.
6 Comments:
Eu sinto que também eu estou a precisar de um duelo olhos nos olhos.
Um beijinho,Gi.
Muito luminoso este pedacinho de Natal aqui deixado...
No dia mais belo, a mais bela flor.
Obrigada!
MCPR
Podes crer que pode ajudar. A palavra é mesmo equilibrio. Neste caso, entre o temor gravado e a lucidez necessária. Parabéns então.
abraço
abssinto
:)
lol,so nice
Not long ago, I have thought about something like that, but I did not realize you are so deep, it seems that I need to continuously strengthen the learning!
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