30 dezembro 2008

8 discos do meu 2008

8. cass mccombs, dropping the writ

disco quase quase inclassificável, algures a brincar com a fronteiras da pop, do rock ligeiramente psicadélico, entre o mainstream mais autoral e o alternativo acessível. histórias e histórias, uma utilização quase cifrada da linguagem, humor finíssimo, ironia q.b., num 'melting pot' com canções que nos conquistam, em crescendo. exquisite.


7. bon iver, for emma forever ago

o rapaz cujo nome se pronuncia 'como em francês', legou-nos, em 2008, um disco totalmente 'low fi' ('less is more'?), a meio caminho entre a catarse emocional sussurrada e a 'malaise' amorosa já suturada. um disco que é um acerto de contas com alguém, partilhado, em surdina dir-se-ia, com quem estiver disposto a ouvir. às vezes, sôa como algo enviezado, nas escolhas musicalmente esquinadas que faz. outras tantas, sôa como se nós próprios cantássemos para nós próprios. e sim, o título é todo um programa. dores doridas mas com uma elegância suave, num disco com momentos acústicos, outros em quase solo absoluto, outros ainda em registo que parece uma espécie de 'a capela'. triste e bonito, intenso. estranhamente doce.


6. mgmt, oracular spectacular

o disco do verão e sério candidato ao top 5 das melhores canções pop de 2008 - sim, falamos de 'time to pretend', mas também de 'kids'. já tudo foi dito. era uma vez uns rapazes que escutaram cedo e certeiramente todo o glam rock e o rock psicadélico dos anos 70, com mais umas pitadas rock directo e de alguma electrónica mais melodiosa. mais do que descrever os ingredientes ou a técnica, importa escutar o resultado da receita: um improvável manjar para melómanos solares, sem medo de, no ano de todas as crises, gritar bem alto 'now, let's have some fun'. ar do tempo, sem dúvida. mas 'spectacular'..


5. vetiver, thing of the past

andy cabic é um dos mestres do 'modern folk-rock' americano, um pouco ao lado, mas não muito ao lado, do movimento conhecido como 'alternative country' ou 'americana'. nos seus vetiver, banda que lidera (entre muitos outros projectos mais ou menos assumidos), dedicou-se, com aquela miraculosa combinação de amor e génio, a recuperar uma boa dúzia de canções desconhecidas de músicos, na sua maioria também eles pouco conhecidos, do que se chama o folk-rock californiano, na viragem dos anos 60 para os anos 70. o resultado? o resultado é um disco intemporal, com canções luminosas, de uma suavidade que já não se usa, como se a banda estivesse em estado de graça, abençoada pelos autores originais (ou, nalguns casos, pelos seus espíritos). música delicada e terna, banda sonora de um mundo que já não existe, a 'casa da pradaria' da nossa infância, em versão musical, mais adulta e mais indolente. um clássico 'vintage'.


4. camané, sempre de mim

de disco em disco, camané (a mais impressionante voz viva em todo o fado, com licença do senhor carlos do carmo) continua a trilhar um caminho quase imaculado. arriscando um niquinho mais do que habitualmente (há uma toada musical que, aqui e ali, parece querer levantar vôo - ou baixar vôo? - para outros continentes), camané gravou mais um disco que, não sendo o nosso favorito saído da sua lavra, entra para o panteão vivo dos discos que ficarão para a pequena grande história deste género musical. triste, denso, sem grandes concessões a fados mais solares, é esculpido por camané, josé mário branco (seu produtor de sempre) e demais companheiros de caminho com aquele saber que vem de longe e que é quase alquimia preciosa. um disco, em português, que não sendo para todos, é, para muitos, a confirmação de camané como 'o príncipe'. muito bom, muito sofrido, aqui e ali.. simplesmente arrebatador.


3. alela diane, the pirate's gospel

recente destaque, aqui no 'flores de inverno' e também na 'estação de inverno', eis a história bonita de uma menina que, aos vinte anos, grava um disco que nos deixa sem fôlego. free-folk, com laivos de gospel, composto durante uma viagem pela europa, gravado em estúdio caseiro, tendo o seu próprio pai ao leme (vem de uma família de músicos, note-se), 'the pirate's gospel' tem já 2 ou 3 anos, mas só agora está a ser devidamente descoberto, muito por mérito do mercado discográfico francês (que cultiva esta espécie de missão: trazer-nos pérolas de etno-world-music nem sempre acarinhadas nos seus países de origem, obrigando a um segundo olhar. um pouco como os 'cahiers du cinéma' fizeram com os grandes realizadores americanos dos anos 30 a 50, tidos até aí como meros artesãos industriais e não como autores de pleno direito, virtuosos da estética e da narrativa, no caso por via da sétima arte). voltando à menina diane, o melhor é ouvir bem. há qualquuer coisa de improvável nesta voz, nestas palavras - de súbito, à nossa frente, 200 anos de história americana estão ali, na gesta das pessoas concretas que a fizeram. e só tem vinte e poucos anos, a nossa rapariga. medo.


2. micah p. hinson, micah p. hinson and the red empire orchestra

o nosso trovador negro preferido da actualidade. antes dos 30, mais um disco assombroso. menos acústico e menos folk do que o primeiro - entre os dois gravou um disco menos conseguido e vários EPs avulsos -, mais produzido e mais orquestral, é, ainda assim, o continuador, dir-se-ia que na maturidade, do sublime (e porventura não mais atingível) disco de estreia (micah p. hinson and the gospel of progress). à solta os fantasmas emocionais do rapaz micah - fantasmas bem universais, diga-se já -, a memória dos grandes cantautores americanos clássicos (um woody guthrie mais existencial?, algum bob dylan menos palavroso?, um johnny cash sob efeito de tranquilizantes?). música menos triste do que o habitual em hinson, mas a mesma 'gravitas', o mesmo 'nihilismo'. 'dark as dark can be', mas com menos raiva e mais acordes (a música acalma, a música sublima..). belíssimo.


1. beach house, devotion

sim, sabemos. é um disco menor. sim, sabemos. não sabem quase tocar. sim, sabemos. foi gravado sabe-se lá como. sim, sabemos. daqui a uns anos, quem??. sim, sabemos. mas, não sejam maus. deixem-nos sonhar com estas melodias minimais, com arranjos a roçar o kitsch (como alguma arte religiosa bem intencionada, ocorre-nos, de repente), com vocalizações etéreas, com palavras doces mesmo quando tristes, com um universo mágico e ao mesmo tempo quase adolescente, com praias perfeitas com pessoas imperfeitas, com amores suaves mesmo quando perdidos, com os elementos primordiais (a água, o fogo, o ar, a terra), com coisas bonitas e delicadas e ternas e assim.. para colocar ao lado de azure ray (umas boas vinte canções), das melhores canções das coccorosie (duas ou três), de todas aqueles discos de que só nós gostamos assim - é isso mesmo, com a devoção dos crentes. até os acordes falhados são um pequeno milagre, amigos.



menções honrosas? dezenas e dezenas e dezenas. eis algumas..

nick cave, dig!!!, lazarus, dig!!!
she & him, volume one
sébastien tellier, sexuality

[em progresso]

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

where you come from!

sábado, janeiro 03, 2009 10:02:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Saw your work, my feeling is that if everyone can be more exchanges, we should be more than is now the world like this!

terça-feira, janeiro 06, 2009 12:23:00 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home