és como a flor de laranjeira / que apesar de invisível aos olhos / penetra nas narinas do moribundo / e é delícia, tudo na vida / por uns segundos antonio gamoneda - in 'o livro do frio'
posted by gi at 9:50 da manhã
POEMAAs coisas permanecerão assim paraSempre. NadaSe despedaçará. NenhumaÁrvore. NenhumaFolha de erva ficaráAí. NenhumaCoisa exceptoAs rochas azuis que ocuparãoO vale onde euDurmo.As coisas permancerão assim paraSempre.As coisas nãoSe despedaçarão.Nada se despedaçará. NadaEscapará e nenhumCorpo destruirá as ideias e nenhumSer será destruído. NenhumaÁrvore. NenhumaFolha de erva estaráPresente paraTestemunhar o Incidente.Tudo continuará assim para sempre. NenhumaCoisa se transformará nem se moverá.Comovida.Tudo para sempre continuará assim.1929Paul Bowles, Poemas, Assírio&Alvim (2008)
ANO A ANOAno a ano desfaz-se a vida, os alicerces.São caves, alpendres,sucessão de pedras no fim dos dias, arquitectura deenigmas e a amendoeira.E tu, quem és?Uma saudade de baías, embarcações,enquanto a morte cresce na direcção dos cabelos e da sua brancura?Uma estrela de deus, um vulto distante?Ainda que não tenhas nome deitas-te agora junto ao meu -escreve-o para sempre no segredo dos lares,repete-o em surdina, junto ao ouvido doente.Talvez exista um pátio onde estás, sentado, triste,como quem espera a noite e os temporais, o frio napele e na alma, o sono antigo.Talvez me sente, talvez te fale, talvez para sempre.Dar-te-ei um nome?Morada, destinos, lugares para uma vida?Eu não sou daqui.José Agostinho Baptista (1948)Biografia:) ela.
Se todo o ser ao vento abandonamos E sem medo nem dó nos destruímos,Se morremos em tudo o que sentimosE podemos cantar, é porque estamos Nus, em sangue, embalando a própria dorEm frente às madrugadas do amor.Quando a manhã brilhar refloriremosE a alma beberá esse esplendor Prometido nas formas que perdemos.Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Sião" frenesi, 1987
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POEMA
As coisas permanecerão assim para
Sempre. Nada
Se despedaçará. Nenhuma
Árvore. Nenhuma
Folha de erva ficará
Aí. Nenhuma
Coisa excepto
As rochas azuis que ocuparão
O vale onde eu
Durmo.
As coisas permancerão assim para
Sempre.
As coisas não
Se despedaçarão.
Nada se despedaçará. Nada
Escapará e nenhum
Corpo destruirá as ideias e nenhum
Ser será destruído. Nenhuma
Árvore. Nenhuma
Folha de erva estará
Presente para
Testemunhar o
Incidente.
Tudo continuará assim para sempre. Nenhuma
Coisa se transformará nem se moverá.
Comovida.
Tudo para sempre continuará assim.
1929
Paul Bowles, Poemas, Assírio&Alvim (2008)
ANO A ANO
Ano a ano desfaz-se a vida, os alicerces.
São caves, alpendres,
sucessão de pedras no fim dos dias, arquitectura de
enigmas e a amendoeira.
E tu, quem és?
Uma saudade de baías, embarcações,
enquanto a morte cresce na direcção dos cabelos e da
sua brancura?
Uma estrela de deus, um vulto distante?
Ainda que não tenhas nome deitas-te agora junto ao meu -
escreve-o para sempre no segredo dos lares,
repete-o em surdina, junto ao ouvido doente.
Talvez exista um pátio onde estás, sentado, triste,
como quem espera a noite e os temporais, o frio na
pele e na alma, o sono antigo.
Talvez me sente, talvez te fale, talvez para sempre.
Dar-te-ei um nome?
Morada, destinos, lugares para uma vida?
Eu não sou daqui.
José Agostinho Baptista (1948)
Biografia
:) ela.
Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus, em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma beberá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Sião" frenesi, 1987
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