30 julho 2008

inesquecível




[em conversa, há poucos dias, lembrei-me deste filme do mestre japonês akira kurosawa, pouco conhecido por estes 'filmes de câmara', da primeira fase da sua carreira. o cinema que mudou o mundo é assim. vê-se uma vez, numa longínqua noite de sábado, talvez ainda na tvi - o saudoso lauro antónio mostrando-nos os clássicos -, e nunca mais se esquece. pelo trailer, associado ao histrionismo que parece existir na interpretação e à rugosidade algo agressiva da banda sonora, pode parecer algo 'áspero', 'esquinado'. não é. é um belíssimo filme sobre o ocaso de um homem comum que, num último gesto de grandeza e humanidade, resolve negar a sua própria natureza (ou, pelo contrário, deixá-la finalmente vir ao de cima?). é uma balada para mais um solitário urbano, espelho do país devastado que era o japão desses dias, ferido de morte no seu orgulho. pode ver-se como filme político, no sentido sociológico, ou como um filme sobre um homem no seu labirinto mais íntimo. seja como for, aqui fica a memória grata, senhor kurosawa].