andaríamos por 1986, 1987.
este foi o disco que marcou a minha modernidade musical, no sentido em que me fez perceber que havia mais mundo para além dos clássicos lá de casa (vinil paterno, com a escola brasileira de qualidade, mas também resquícios do disco sound, os cantores de intervenção portugueses, etc.) e do mainstream das rádios e televisões da época, para mais num ambiente de província.
pouco depois, chegaria, por mão amiga (um abraço, Luis, andes por onde andares), o tempo dos urbano-depressivos, vividos já o movimento tinha terminado (toda a escola joy division, bauhaus, a editora 4AD em todo o seu esplendor - com o som complexo, atmosférico, poético dos cocteau twins, this mortal coil, dead can dance e derivados). acrescente-se, pouco depois, a aprendizagem do punk inglês (clash, sex pistols), a procura das margens nacionais (edições ama romanta, os mão morta, a sétima legião, o rock rendez vous, vivido nas páginas do saudoso jornal sete), a madchester a começar, o mergulho na história com os doors e seus companheiros de década, a valorização dos beatles (porque diabo 'o sargento pimenta' rasgou horizontes, perguntava-me a cada audição?). um longo etc.
foi nesses dias - dias felizes -, que a música veio para ficar, como se vê aqui no flores de inverno ou na sua irmã estação de inverno.
da música se pode dizer: tudo me interessa. leitor compulsivo, ouvinte sedento, mergulhador de profundidade na história e nas histórias, apreciador com amplitude máxima daquela que é, para mim, uma arte maior entre as artes maiores (e há quem saiba como eu venero o cinema, alguma pintura e tantos, mas tantos, livros).
vale este pequeno relato tosco e simplório como introdução para dizer o que já disse lá atrás: o primeiro disco dos violent femmes (sem título ou, como é também habitual, designado como violent femmes) foi, no contexto da minha biografia afectiva e estética, o disco mais importante da minha década de 80. ouvi-o centenas de vezes, no mínimo. várias vezes por dia, durantes muitos dias. sei, ainda hoje, todas as canções quase quase de cor, incluindo silêncios, inflexões de voz, etc. sim, ficou gravado.
a malaise adolescente,
o mal-de-vivre urbano,
a visceralidade do rock mais melódico,
a forma de cantar em que se cospem as palavras,
a importância da dicção,
a atitude rebelde com causa,
o amor sempre omnipresente,
tudo isto é este disco.
a rádio radar elegeu-o como 'álbum de família', destaque nesse programa que é, já o disse várias vezes, a coisa mais parecida com um serviço público sério, proporcionando-nos um passeio pedagógico e delicioso pela história da moderna música popular, desde os anos 60 até à data.
há coisas assim, como aqueles amores inexplicáveis, aquelas amizades improváveis, aquele dia em que mudamos de vida e com isso nascemos de novo - quando tropeçamos em alguma coisa que nos faz declinar 'o verbo metafísica' no presente singular do indicativo plural.
2 Comments:
Esta banda nem me chegou a raspar, embora ouvisse falar lá na escola e lesse as palavras Violent Femmes escritas um pouco por todo o lado... Normalmente que gostava de V.F. eram os mesmos partidários de Sonic Youth ou dos Pixies. Tudo bandas que eu não conheço praticamente nada por na altura me terem gravado numa k7 o "but... what ends when the symbols shatter?" dos Death in June. Depois aprofundei os Cure, vieram o Joy Division, Sisters...
que lindo gi!
gosto tanto deste disco e de tudo o que ele me lembra...
bj azul
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