dave berry, 'the crying game'
no último dia deste inverno, uma canção decididamente vinda do frio.
o tempo não existe. o tempo é uma invenção nossa. eu nunca vi o tempo aterrar no aeroporto da portela. nunca ninguém me demonstrou que o tempo tem substância. nunca olhei o tempo nos olhos. nunca senti o seu abraço. nem o seu punhal. o tempo é uma fantasia, uma manobra, uma ilusão, um devaneio, uma artimanha, uma mentira. o tempo nunca deu pão a ninguém, nem estendeu a mão. o tempo nunca deu o seu ombro. o tempo nunca ficou fora de si. o tempo não existe. o tempo é uma invenção vossa.
tudo existe sempre. todos existem para todos, o tempo todo. ontem é hoje é amanhã. o tempo é um mentiroso compulsivo, demente, enredado na sua própria espiral, alimentado da sua própria loucura.
hoje é inverno e primavera. hoje é verão. hoje é outono. hoje são as estações todas, e nós nelas e elas em nós. e é por isso que é tão difícil navegar este carrossel - espanto e queda, beleza e repulsa, sorriso e lágrima. um mar de fogo. uma fogueira de gelo.
um rio desvairado
que nasce no mar fundo
e desagua na serra maior.
falo do tempo passado,
do tempo presente e deste mundo.
mas muito mais falo
do futuro do tempo - e do amor.
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