14 fevereiro 2008

o dia em que morreu outro avô*

(in memoriam)


pássaros que rasgam a madrugada:
emissários negros e silenciosos
prenunciando chuva, chumbo e morte.

pássaros negros que rasgam o céu:
sicários gregos e tensos
anunciando as sombras à nossa corte.

pássaros de chumbo que grasnam:
'killers' simbólicos, e dos mais metódicos.
quando deles queríamos só melodia,
pássaros silenciosos chovem do céu.
pássaros em perda que nos transformam
- agora funda noite
onde erámos, há pouco, esplendoroso (e inglório) dia.


* para aqueles que professam a fé das e nas famílias alargadas, para aqueles que cresceram com rituais familiares quase sagrados, onde havia sempre uma mão-cheia de primos à solta e de tios e tias e de familiares idosos a zelarem pelos laços e pela herança ancestral, haverá sempre um ditado do género: 'avô de meus primos, meu avô é'. hoje, dia de lágrimas para a dona r., para a minha tia l. e para as minhas queridas primas i. e r., aqui fica um poemazito em forma de abraço. não serve de nada, mas a gente dá o que pode e o que sabe e o que consegue. a gente dá o que somos.