31 dezembro 2007

no café-pastelaria da avenida do almirante infortunado, as mesas desapareceram por estes dias, para facilitar a exposição e inerente logística dos fritos e doçaria dourados tradicionais na época.
a velhinha entra, senta-se numa das poucas cadeiras sobreviventes ao frenesim festivo.
- dona maria, hoje não servimos almoço - diz a eficaz empregada, cumprindo com zelo, e não de todo destituída de simpatia, a sua missão laboral.
a velinha olha-a e procura com o olhar gasto algo que bem pode ser percebido como um sinal de confusão, um pedido de ajuda, qualquer coisa. qualquer coisa seguramente.
- menina, para a dona maria há almoço. dona maria, espere um bocadinho, que já trato de si, está bem? a voz que se escutou veio da dona da pastelaria, mulher sexagenária, de sangue na guelra, não especialmente empática. uma mulher de trabalho, sem contemplações para as subtilezas da vida, percebe-se.
o olhar da velhinha repousou.

para mim, este foi o milagre de Natal.
eu que continuo a acreditar em suaves milagres, como diria o grande Eça. aqueles que fazemos uns aos outros.

são também os meus votos para 2008.
ide e dai-lhes que fazer, como diria o joão césar monteiro. ide e mostrai-lhes.
que os milagres acontecem quando a gente quer - assim mesmo, com plebeísmo à mistura - que eles aconteçam.

mai'nada!