19 dezembro 2007

MONOTONIA

a pedra que bateu na porta da casa
não era uma pedra qualquer. trazia
a força do teu pulso e da tua ira.
se porventura te dava ouvidos
e desgastava ainda mais o pensamento,
era porque já nada tinha para desgastar.

não admira que ficasse em brasa.
fingia que ia ter contigo, ou que não ia,
visto de fora parecia uma coisa muito gira.
adormeço entre grunhidos e latidos
com a possível droga do momento.
sem um cão sequer com a cauda a dar a dar.

coisa comum: foste-te embora e embora
haja no mundo outras preocupações,
só memorizo o teu nome e a tua cara.
imaginaste-te corpo cintilante, desafiaste
os deuses, ou apenas Deus, e os deuses,
ou apenas Deus, esqueceram-se de te dar companhia.

todas as memórias pela borda fora
e no corpo, localizadas, certas sensações.
descubro água na terra, aponto a vara
e nasce em cada ramo uma firme haste.
é tempo de terminar com os adeuses,
escrevo enroscado na minha monotonia.


helder moura pereira

1 Comments:

Blogger Abssinto said...

Mais uma das tuas páginas seleccionadas.

Bom.

quinta-feira, dezembro 20, 2007 12:46:00 da tarde  

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