07 novembro 2007

cabo verde: uma viagem sentimental 5

lembrando os pavilhões de rifas (as quermesses de outro antigamente), as viagens trazem, por vezes, pequeninas surpresas atreladas, tanto maiores quanto maior for a abertura do nosso receptor ao mundo exterior, ao desconhecido, ao que é simplesmente diferente.

durante a estadia, somos surpreendidos com o anúncio pelo nosso amigo sr. x. de que havia sido convidado para júri do concurso.. 'miss cabo verde 2007'! rapidamente, e porque é rapaz de tiro rápido, pensou para com os seus botões que talvez fosse uma oportunidade única para os seus amigos de confraternizarem in loco com a realidade local, num contexto de celebração popular, costela evento folk.

bem pensado, melhor feito.. e assim lá avançamos, felizmente bem jantados, para o que havia de ser tornar uma noite memorável. 'exquisite' seria igualmente uma palavra ajustada.

chegados à entrada, seriam 21h30 - hora marcada para o início das festividades -, lá contornámos as filas e, com passo seguro mas algo expectante, seguimos o anfitrião para a entrada vip. depois de uma brevíssima negociação, o nosso guia espiritual foi conduzido para a mesa do júri, enquanto os seus discípulos eram encaminhados para uma plateia de honra (convidados, patrocinadores, media, etc..). e foi o início de uma looooonga nooooiteeeeeee. trust me.

imperioso dizer que a hora de cabo verde é bastante mais desfasada do que as convenções internacionais dizem. só pode ser isso, uma vez que as 21h30 suavemente deslizaram noite dentro.. para as 00h30! toma lá 3 horas de corropio constante de público, bebidas gratuitas oferecidas por um dos patrocinadores (alô cerveja 'strela' - um abraço ao seu responsável!), cigarros em catadupa (para os apreciadores e outros dependentes), converseta de ocasião, muita observação, idas a uma casa de banho onde se misturavam, já no interior da ala feminina, homens e mulheres, em dupla fila, uma vez que a ala masculina estava fechada. é a chamada adaptação por ajustamento instantâneo. utilizar uma destas instalações, estando separados das filas expectantes por uma frágil portinha sem trinco.. é toda uma sensação. principalmente, quando uma mão mais lampeira e/ou uma mente mais distraída resolve testar a sorte e abrir a dita portinha.. gritos e risadas da ala feminina, pelo que estava prestes a acontecer.. à vista daquela plateia improvisisada. valeram os rápidos reflexos.. e lá nos safámos, inteiros e compostos! algum tempo mais tarde, o nosso amigo sr. d. havia de arriscar uma ida à casa de banho masculina, entretanto aberta. saiu em estado de choque: 3 aplicados moçoilos entretinham-se a destruir parte das 'facilities', com calma e naturalidade aparente. deve ser a chamada 'excepção cultural'.. já que polícia e exército não faltava, pelo menos à entrada do pavilhão onde decorria tão sui generis evento. adiante.

as três horinhas de espera foram sendo enganadas com actuações de artistas de variedades, mais ou menos fraquinhos. o pior foi quando os apresentadores enfim surgiram e tentaram dirigir umas explicações à rapaziada, farta já de esperar (famílias inteiras, faço notar). um imenso urro colectivo, vaias, assobios - lá em baixo, da plateia colocada no centro do recinto desportivo, parecia-nos estarmos a arbitrar um concurso entre a jumentude leonina, os desgraçados vermelhos e os super-fanfarrões - e todos 'on the stone'! gravámos o som no telemóvel, apenas por curiosidade sociológica. é quase assustador. por dentro, o riso lá vencia a estupefacção - de outras vezes, seria ao contrário..

naturalmente, com candidatas vindas de ilhas diversas e competitivas entre si e também oriundas das comunidades na diáspora cabo-verdeana, foi um instantinho até existirem claques, assobios e palmas, consoante a origem das moças e não a sua aptidão para a função de rainha da beleza local. critérios.

irresistível o episódio no qual um dos artistas chamados para abrilhantar a noite se dirigiu às massas e convidou duas pessoas do público (ala esquerda e ala direita) para se juntarem a ele no palco, para um pézinho de dança. lá saiu uma jovem mais afoita de junto dos seus e num ápice apareceu em palco. não dançava mal a rapariga, dentro do estilo menear de anca em fast forward bastante gráfico, mas seria completamente arrasada pelo que seguiria. da ala oposta do público, salta para a pista um rapaz (juro que parecia rapariga..) e, literalmente, arranca um show de dança do outro mundo. acho que vi coisas que nem sabia serem possíveis de fazer com o corpo! impregnado de sensualidade com x, o rapaz arrancou para um solo absoluto, uma performance quase animal - a meio envolvendo o semi-aparvalhado artista que lançou o desafio e pensava 'mas o que é que eu fiz..?!?!?'. o público assobiava, batia palmas, gritava, num misto de excitação e de repulsa/vergonha, a cada passo de dança mais, como dizer, visceral. único, meus caros amigos. no final, o nosso artista amador - curiosamente parecido com o nosso josé castelo branco em certos trejeitos físicos -, passeia-se pelas bancadas, em pose de starlette, agradecendo os aplausos, distribuindo acenos. no palco, o artista principal tentava chamar a atenção há muito perdida. a little star was born - quantas vezes, o vemos, a cores e ao vivo? nós vimos!

seriam 3h30 da manhã quando os resultados saíram. não concordei com o júri, mas concedo que estava a maior distância da passerelle.. o nosso anfitrião, homem de gatilho ligeiro, já vos disse?, teve uma ideia brilhante: terminada a votação e comunicada aos apresentadores, abandonou sorrateiramente a mesa e juntou-se, mais cá para trás, aos seus dois amigos. razão? lapidar: 'eu sei lá se isto vai dar molho! olham e dizem: a culpa é do júri! e quem está no júri? mulatos, pessoas de cor e 2 brancos.. logo a culpa é, com elevada probabilidade, minha!!'. o riso voltou a levar a melhor - como não?

antes de nos lançarmos à noite - sim que isto era ainda o aquecimento -, ainda tivemos tempo para observar as misses, já com as eleitas em estado mais comovido (e para bater palmas especiais para uma candidata que, em nossa opinião, merecia mais do que ser a miss fotogenia). de repente, somos interpelados por uma jornalista local que nos pede o nosso nome. dizemos '____' e perguntamos 'para?'. a graciosa menina escreve no seu bloquinho '___ para', em jeito de nome próprio e apelido! corrigido o engano, lá nos informou que era para a 'secção vip' do jornal, onde deveremos ter aparecido como 'srs. de tal e tal, convidados de portugal'. belíssimo estatuto, é o que vos digo!

já no regresso a lisboa, viemos no mesmo vôo que as candidatas das comunidades de portugal e da holanda. enquanto esperávamos pelas malas, conversa puxa conversa, e a nossa luso-representante desata em 30 minutos de críticas atrás de críticas aos bastidores, à falta de profissionalismo, etc. e tal dos organizadores do concurso. foi a parte séria, por assim dizer. e triste. por verificarmos as insuficiências de um país, através das palavras amargas de uma sua filha; e por pensarmos para connosco quantas e quantas vezes por detrás do glamour e do brilho das luzes se não passam situações complicadas..

ainda assim, o balanço: quite an evening, quite an evening.

miss cabo verde 2007
..e um gostinho a canela para memória futura.

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

ai, sôdade!

d.

quarta-feira, novembro 07, 2007 5:06:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

ja se prepara a miss CV 2008!!

quarta-feira, novembro 07, 2007 5:11:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

miss CV 2008!
grande momento se adivinha!
stamos lá!
prepara-se o estabelecimento de uma nova e deliciosa practica anual.

d.

quarta-feira, novembro 07, 2007 5:22:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

diria que
o sr. d. e o sr. x.
andam por aqui!

;-)
abraço adocicado e strelado,

gi.

quarta-feira, novembro 07, 2007 5:23:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

somos nós, sim, sr. j.

ab

quarta-feira, novembro 07, 2007 6:10:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

i * CV

quarta-feira, novembro 07, 2007 6:14:00 da tarde  

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