cabo verde: uma viagem sentimental 2
impossível também fechar os olhos à herança portuguesa, absolutamente decisiva e, diria, intrínseca.
sabemos que não é um statement isento de polémica, ou não existisse uma corrente forte no arquipélago que fomenta (e não queremos aqui manifestar qualquer opinião, por manifesta falta de competência) uma visão mais integralista da especificidade cabo-verdeana, por contraponto a uma visão da história que apelidam de 'neocolonialista'.
abstendo-nos de tomar partido, o que nos fica na retina - e portanto é a base possível para a nossa percepção - foi uma impressionante parecença entre certos aspectos que reconhecemos como portugueses e aquilo que, a milhares de quilometros de distância, vimos em cabo verde:
a) a língua, na sua vertente pura ou na sua vertente crioula, e a religião católica são a primeira plataforma comum (e a mais poderosa, naturalmente);
b) menos óbvia, a organização arquitectónica da zona mais histórica, remete-nos de imediato para a imagem das pequenas cidades portuguesas, por volta de meados do século vinte;
c) ainda menos óbvia, a forma de organização das pequenas vilas do interior, nomeadamente o desenho e jogo de cores das suas igrejas (tão parecidas com as nossas igrejas de aldeia, com o seu larguinho à volta e, em povoações maiorzinhas, com um jardim central, local de encontro privilegiado);
d) o modo de vestir dos camponeses (os lenços na cabeça, ainda que mais garridos, nas senhoras mais idosas), igual às imagens da beira alta aldeã da nossa infância;
e) a influência, também, no tipo de oferta comercial que existe. havendo ainda poucos estrangeiros não portugueses dispostos a investir na ilha de santiago, os laços mais afectivos entre estados e o facto de ser um mercado óbvio, quase natural, para algumas empresas e pequenos empresários nacionais, criam uma espécie de pastiche de um certo portugal (o café com pão quente e pastelaria à la portuguesa, bem no centro da cidade; o restaurante casa-de-pasto com os seus franguinhos assados; etc, etc.), que nos dá uma espécie de conforto (encontrar o igual no diferente, por assim dizer).
os exemplos poderiam multiplicar-se. fica a ideia fundamental: somos nós, portugueses, quem, salvaguardadas as inegáveis diferenças e a inviolável identidade cabo-verdeana, é co-responsável por 'este cabo verde' (que é o que há). sem espírito colonial, mas também sem excesso de responsabilidade histórica pelos destinos de um povo com auto-determinação e independência, somos forçados a sermos honestos intelectualmente: na justa medida e com sentido das coisas, estivemos lá, estamos lá e estaremos lá. e isso vê-se, sente-se, vem ao nosso encontro. é, como agora se diz, incontornável.
(sim, é verdade: sentimos um bocadinho de orgulho por esse facto, sem nacionalismos bacocos nem vontade de quintos impérios.)
sabemos que não é um statement isento de polémica, ou não existisse uma corrente forte no arquipélago que fomenta (e não queremos aqui manifestar qualquer opinião, por manifesta falta de competência) uma visão mais integralista da especificidade cabo-verdeana, por contraponto a uma visão da história que apelidam de 'neocolonialista'.
abstendo-nos de tomar partido, o que nos fica na retina - e portanto é a base possível para a nossa percepção - foi uma impressionante parecença entre certos aspectos que reconhecemos como portugueses e aquilo que, a milhares de quilometros de distância, vimos em cabo verde:
a) a língua, na sua vertente pura ou na sua vertente crioula, e a religião católica são a primeira plataforma comum (e a mais poderosa, naturalmente);
b) menos óbvia, a organização arquitectónica da zona mais histórica, remete-nos de imediato para a imagem das pequenas cidades portuguesas, por volta de meados do século vinte;
c) ainda menos óbvia, a forma de organização das pequenas vilas do interior, nomeadamente o desenho e jogo de cores das suas igrejas (tão parecidas com as nossas igrejas de aldeia, com o seu larguinho à volta e, em povoações maiorzinhas, com um jardim central, local de encontro privilegiado);
d) o modo de vestir dos camponeses (os lenços na cabeça, ainda que mais garridos, nas senhoras mais idosas), igual às imagens da beira alta aldeã da nossa infância;
e) a influência, também, no tipo de oferta comercial que existe. havendo ainda poucos estrangeiros não portugueses dispostos a investir na ilha de santiago, os laços mais afectivos entre estados e o facto de ser um mercado óbvio, quase natural, para algumas empresas e pequenos empresários nacionais, criam uma espécie de pastiche de um certo portugal (o café com pão quente e pastelaria à la portuguesa, bem no centro da cidade; o restaurante casa-de-pasto com os seus franguinhos assados; etc, etc.), que nos dá uma espécie de conforto (encontrar o igual no diferente, por assim dizer).
os exemplos poderiam multiplicar-se. fica a ideia fundamental: somos nós, portugueses, quem, salvaguardadas as inegáveis diferenças e a inviolável identidade cabo-verdeana, é co-responsável por 'este cabo verde' (que é o que há). sem espírito colonial, mas também sem excesso de responsabilidade histórica pelos destinos de um povo com auto-determinação e independência, somos forçados a sermos honestos intelectualmente: na justa medida e com sentido das coisas, estivemos lá, estamos lá e estaremos lá. e isso vê-se, sente-se, vem ao nosso encontro. é, como agora se diz, incontornável.
(sim, é verdade: sentimos um bocadinho de orgulho por esse facto, sem nacionalismos bacocos nem vontade de quintos impérios.)
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