sábado (estrelas morrem)
foto: francesca woodman
tu choravas e eu ia apagando
com os meus beijos os rastos das tuas lágrimas
- riscos na areia mole e quente do teu rosto.
choravas como quem se procura.
e eu descobria mundos, inventava nomes,
enquanto ia espremendo com as mãos
o meu sangue todo no teu sangue.
não sei se o mundo existia e nós
existiamos realmente.
sei que tudo estava suspenso,
esperando não sei que grave acontecimento,
e que milhares de insectos paravam e
zumbiam nos meus sentidos.
só a minha boca era uma abelha inquieta
percorrendo e picando o teu corpo de beijos.
depois só dei pela manhã,
a manhã atrevida,
entrando devagar, muito devagar e
acordando-me.
desviei os meus olhos para ti:
ao longo do teu corpo morriam as estrelas.
a noite partira. e, lentamente,
o sol rompeu no céu da tua boca.
albano martins
3 Comments:
se este poema não é a perfeição eu não sei o que a perfeição é..
albano martins, só podia ser dele: ele partilha do alfabeto das estrelas.
um asterisco.
ana
Poesia é isto mesmo. Grande exemplo.
abs
interessante.........
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