06 outubro 2007

sábado (estrelas morrem)


foto: francesca woodman

tu choravas e eu ia apagando
com os meus beijos os rastos das tuas lágrimas
- riscos na areia mole e quente do teu rosto.
choravas como quem se procura.
e eu descobria mundos, inventava nomes,
enquanto ia espremendo com as mãos
o meu sangue todo no teu sangue.

não sei se o mundo existia e nós
existiamos realmente.
sei que tudo estava suspenso,
esperando não sei que grave acontecimento,
e que milhares de insectos paravam e
zumbiam nos meus sentidos.
só a minha boca era uma abelha inquieta
percorrendo e picando o teu corpo de beijos.

depois só dei pela manhã,
a manhã atrevida,
entrando devagar, muito devagar e
acordando-me.
desviei os meus olhos para ti:
ao longo do teu corpo morriam as estrelas.
a noite partira. e, lentamente,
o sol rompeu no céu da tua boca.



albano martins

3 Comments:

Blogger ana salomé said...

se este poema não é a perfeição eu não sei o que a perfeição é..
albano martins, só podia ser dele: ele partilha do alfabeto das estrelas.

um asterisco.
ana

sábado, outubro 06, 2007 11:27:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Poesia é isto mesmo. Grande exemplo.

abs

domingo, outubro 07, 2007 7:46:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

interessante.........

quarta-feira, abril 13, 2011 3:53:00 da tarde  

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