mazgani, filho de pais iranianos, residente em setúbal, anda há anos - como tantos - a tocar para as paredes da sua garagem. nas páginas do 'público', o joão bonifácio fala dele a cada 6 meses, naquele jeito que quer dizer 'esperem por ele, vão ver que vale a pena'. a primeira vez que ouvi falar dele terá sido a propósito de um cd com jovens talentos europeus que uma conhecida revista francesa de música & artes organizou. de portugal um ilustre desconhecido: mazgani. exactamente.
ontem, para uma plateia de gente sentada e outra tanta de pé, o nosso rapaz (já nos trintas), tocou a solo uma dúzia de canções do seu primeiro disco (está a sair por estes dias). as canções, quando despidas de toda a quinquilharia sónica, mostram o que valem. estas mostraram que valem muito.
ideias fortes:
- um singersongriter talhado a partir dos clássicos. um devoto do senhor cohen, com uns travos de buckley filho, aqui e ali um toque de van morrison (nas melodias mais bluesy), a sombra dos nick drake deste mundo - mas cantando com mais claridade. é uma herança de peso e não é para qualquer um;
- muito bem igualmente o nosso rapaz na interacção com o público, oscilando entre o humilde ('estou mesmo aflito'; 'vocês assustam-me, confesso'), o literato sem pretensão (oscar wilde e os mitos greco-romanos andaram por ali) e o humor inteligente (quando falava sobre o tema das canções, por exemplo);
- o seu belo fato castanho (sim, adivinharam, com aquela nuance retro que eu particularmente admiro) é já marca registada (nas sessões fotográficas, nos concertos, cá está ele..). e não é que vai muito bem com a música que se ouve e as palavras que nos embalam? vai, sim senhor, é o que vos digo;
- ao longo do espectáculo, 2 covers: p.j.harvey e o senhor cohen. com humildade extrema na apresentação das mesmas, para melhor se apropriar delas (como aconteceu). não é para todos, meus caros, não é para todos.
vejamos os que os próximos tempos nos trazem. por mim, devo dizer que foi uma excelente (ainda que anunciada) surpresa. um trovador deste calibre não aparece todos os dias em portugal.
ou do anacronismo como forma de beleza.
segunda parte da noite: kurt wagner, dos lambchop. que dizer?
- duas dúzias de canções, final do espectáculo quase 1h30 da manhã..('you know guys i don't really have any place to go, so..');
- uma voz única, naquele jeito quebrado, falso lento, que sobe e desce escalas, sem se perceber bem..;
- uma guitarra fantástica ('a friend of mine had one; i've tried it for a while, you know, i had to have my own; this one came from a store in nashville'), capaz de simular uma mini-orquestra - não sei bem descrever, mas passei minutos a olhar para o equipamento musical (minimal e, também aqui, deliciosamente retro) e a tentar perceber como um som tão complexo podia vir de uma única pessoa a tocar um único instrumento)..;
- o próprio kurt wagner antes do espectáculo, com a ajuda de um roadie e do pessoal da casa, a montar o seu equipamento, mochila à tiracolo, como se fosse, sei lá, o the boy next door..;
- um cenário minimal para uma eficácia máxima. uma espécie de poltrona, atrás uma coluna vinda dos anos 50(!), à frente um estendal de roupa, a cruzar a boca do palco, cheio de molas da roupa. mais tarde perceberíamos: no final de cada canção, uma folha de papel (letra da música? uns rabiscos?) era por ele colocada no estendal. quando estivesse cheio, seria altura de acabar a performance. simples, simples e de uma inteligência e elegância cénicas (complementadas pelo suave jogo de luzes escuras) notáveis;
- as canções dos lambchop: um cancioneiro imenso ('jesus, i have so many - what should i play next?), feito de melodias em sussurro, de palavras nem sempre óbvias (é um elogio e grande), com uma capacidade de descrever, quase narrando, aquelas pequenas coisas do quotidiano, sempre por ângulos subtis, diferentes, imensamente ternos e muito, muito poéticos. lindo;
- e a última canção: rimando com o rapaz mazgani, senhoras e senhores, tomai lá do kurt: 'chelsea hotel', leonard cohen. nada a dizer, encerramento perfeito, por uma voz perfeita na sua rugosidade, cantando uma canção perfeita
i need you, i don't need you
i need you, i don't need you
i need you, i don't need you
quem nunca pecou no chelsea hotel que atire a primeira pedra.
eu por mim, vou trabalhar, assobiando sózinho e para mim próprio aquelas 'lines' sublimes que dizem assim
i remember you well in the chelsea hotel,
you were talking so brave and so sweet,
giving me head on the unmade bed,
while the limousines wait in the street.
those were the reasons and that was new york,
we were running for the money and the flesh.
and that was called love for the workers in song
probably still is for those of them left.
ah but you got away, didn't you babe,
you just turned your back on the crowd,
you got away, i never once heard you say,
i need you, i don't need you,
i need you, i don't need you
and all of that jiving around.
i remember you well in the chelsea hotel
you were famous, your heart was a legend.
you told me again you preferred handsome men
but for me you would make an exception.
and clenching your fist for the ones like us
who are oppressed by the figures of beauty,
you fixed yourself, you said, "well never mind,
we are ugly but we have the music."
and then you got away, didn't you babe...
i don't mean to suggest that i loved you the best,
i can't keep track of each fallen robin.
i remember you well in the chelsea hotel,
that's all, i don't even think of you that often.
..
valeu, rapazes. obrigado por darem voz.. vocês sabem ao quê, vocês sabem a quem.
ontem, para uma plateia de gente sentada e outra tanta de pé, o nosso rapaz (já nos trintas), tocou a solo uma dúzia de canções do seu primeiro disco (está a sair por estes dias). as canções, quando despidas de toda a quinquilharia sónica, mostram o que valem. estas mostraram que valem muito.
ideias fortes:
- um singersongriter talhado a partir dos clássicos. um devoto do senhor cohen, com uns travos de buckley filho, aqui e ali um toque de van morrison (nas melodias mais bluesy), a sombra dos nick drake deste mundo - mas cantando com mais claridade. é uma herança de peso e não é para qualquer um;
- muito bem igualmente o nosso rapaz na interacção com o público, oscilando entre o humilde ('estou mesmo aflito'; 'vocês assustam-me, confesso'), o literato sem pretensão (oscar wilde e os mitos greco-romanos andaram por ali) e o humor inteligente (quando falava sobre o tema das canções, por exemplo);
- o seu belo fato castanho (sim, adivinharam, com aquela nuance retro que eu particularmente admiro) é já marca registada (nas sessões fotográficas, nos concertos, cá está ele..). e não é que vai muito bem com a música que se ouve e as palavras que nos embalam? vai, sim senhor, é o que vos digo;
- ao longo do espectáculo, 2 covers: p.j.harvey e o senhor cohen. com humildade extrema na apresentação das mesmas, para melhor se apropriar delas (como aconteceu). não é para todos, meus caros, não é para todos.
vejamos os que os próximos tempos nos trazem. por mim, devo dizer que foi uma excelente (ainda que anunciada) surpresa. um trovador deste calibre não aparece todos os dias em portugal.
ou do anacronismo como forma de beleza.
segunda parte da noite: kurt wagner, dos lambchop. que dizer?
- duas dúzias de canções, final do espectáculo quase 1h30 da manhã..('you know guys i don't really have any place to go, so..');
- uma voz única, naquele jeito quebrado, falso lento, que sobe e desce escalas, sem se perceber bem..;
- uma guitarra fantástica ('a friend of mine had one; i've tried it for a while, you know, i had to have my own; this one came from a store in nashville'), capaz de simular uma mini-orquestra - não sei bem descrever, mas passei minutos a olhar para o equipamento musical (minimal e, também aqui, deliciosamente retro) e a tentar perceber como um som tão complexo podia vir de uma única pessoa a tocar um único instrumento)..;
- o próprio kurt wagner antes do espectáculo, com a ajuda de um roadie e do pessoal da casa, a montar o seu equipamento, mochila à tiracolo, como se fosse, sei lá, o the boy next door..;
- um cenário minimal para uma eficácia máxima. uma espécie de poltrona, atrás uma coluna vinda dos anos 50(!), à frente um estendal de roupa, a cruzar a boca do palco, cheio de molas da roupa. mais tarde perceberíamos: no final de cada canção, uma folha de papel (letra da música? uns rabiscos?) era por ele colocada no estendal. quando estivesse cheio, seria altura de acabar a performance. simples, simples e de uma inteligência e elegância cénicas (complementadas pelo suave jogo de luzes escuras) notáveis;
- as canções dos lambchop: um cancioneiro imenso ('jesus, i have so many - what should i play next?), feito de melodias em sussurro, de palavras nem sempre óbvias (é um elogio e grande), com uma capacidade de descrever, quase narrando, aquelas pequenas coisas do quotidiano, sempre por ângulos subtis, diferentes, imensamente ternos e muito, muito poéticos. lindo;
- e a última canção: rimando com o rapaz mazgani, senhoras e senhores, tomai lá do kurt: 'chelsea hotel', leonard cohen. nada a dizer, encerramento perfeito, por uma voz perfeita na sua rugosidade, cantando uma canção perfeita
i need you, i don't need you
i need you, i don't need you
i need you, i don't need you
quem nunca pecou no chelsea hotel que atire a primeira pedra.
eu por mim, vou trabalhar, assobiando sózinho e para mim próprio aquelas 'lines' sublimes que dizem assim
i remember you well in the chelsea hotel,
you were talking so brave and so sweet,
giving me head on the unmade bed,
while the limousines wait in the street.
those were the reasons and that was new york,
we were running for the money and the flesh.
and that was called love for the workers in song
probably still is for those of them left.
ah but you got away, didn't you babe,
you just turned your back on the crowd,
you got away, i never once heard you say,
i need you, i don't need you,
i need you, i don't need you
and all of that jiving around.
i remember you well in the chelsea hotel
you were famous, your heart was a legend.
you told me again you preferred handsome men
but for me you would make an exception.
and clenching your fist for the ones like us
who are oppressed by the figures of beauty,
you fixed yourself, you said, "well never mind,
we are ugly but we have the music."
and then you got away, didn't you babe...
i don't mean to suggest that i loved you the best,
i can't keep track of each fallen robin.
i remember you well in the chelsea hotel,
that's all, i don't even think of you that often.
..
valeu, rapazes. obrigado por darem voz.. vocês sabem ao quê, vocês sabem a quem.
3 Comments:
Este comentário foi removido pelo autor.
veio/vem
o corção à boca
neste post
:)
é o que diz ali por outras palavras
é que eu aqui deste lado
já dei dez voltas na cadeira
abri meia duzia de sorrisos
nao tarda aprendo aqui como se faz isso do assobiar...febre e assim
:)
tu disses te mesmo mesmo (?)
"quem nunca pecou no chelsea hotel que atire a primeira pedra."
????
eu bem me parecia...que tinhas dito...isso.
gi. és o mais lindo!!!
sou o mais AGRADECIDO.
por poder ler coisas assim de pessoas como tu.
isso sim.
corações ao alto,
because i remember well
MY chelsea hotel.
:-)
gi.
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