pétalas negras ardem nos teus olhos
eu tinha meus pés naquela parte da vida
onde não se pode ir com intenção de regressar
dante allighieri, in 'vita nuova'
ocupei o dia com pequenas tarefas
para silenciar um pedido uma súplica
(..)
esperando que um vento frio
dispa de folhas todos os ramos
um dia hei-de pensar no teu rosto
com um dedo que feche pálpebras
e direi
extinguiu-se a minha adoração
e nunca mais procurarei
os vestígios dos teus passos no mundo
percebo demasiado tarde
que a vida é apenas isto
um lugar de abandono
com ciprestes na beira da estrada
nunca foi diferente, por meu, tenho apenas
o vento de outono, as tílias destruídas
e a dolorosa certeza de em tudo ter falhado
quando te afastas
uma fina poeira de gelo
cobre os ramos de todas as árvores
e delicadamente
atravessas os destroços
em que deixas tudo o que amaste
não te demores no meu rosto
habita-o uma despedida
um mundo de onde Deus se ausentou
não sei dizer de onde chegam as tuas mãos
mas essa luz não pertence a este mundo
só dedos assim tão finos
poderiam penetrar a espessura da noite
trazendo ainda frescas umas gotas da manhã
sentir o cair das folhas
como uma advertência íntima
o primeiro passo para um encontro
um regresso ao coração
a primavera prossegue
com outras palavras
o discurso ruinoso do inverno
estávamos juntos
mas o meu coração afastava-se em silêncio
como se esperasse a chegada da neve ou de Deus
fizeste da tua vida
uma catedral abandonada
horas esquecidas
em adoração nocturna
pedindo silêncio
a tudo o que perdeste
(..)
o mundo inteiro irreconhecível
o amor a arder por entre as rosas
a chuva no teu rosto é um milagre de cristais
não conheço um relâmpago que não nasça nos teus olhos
a minha vida
caindo
como neve na escuridão
(..)
caminhamos para o silêncio
e para a escuridão indefinível dos bosques
luis falcão, in 'pétalas negras ardem nos teus olhos'
editora assírio & alvim, 2007
onde não se pode ir com intenção de regressar
dante allighieri, in 'vita nuova'
ocupei o dia com pequenas tarefas
para silenciar um pedido uma súplica
(..)
esperando que um vento frio
dispa de folhas todos os ramos
um dia hei-de pensar no teu rosto
com um dedo que feche pálpebras
e direi
extinguiu-se a minha adoração
e nunca mais procurarei
os vestígios dos teus passos no mundo
percebo demasiado tarde
que a vida é apenas isto
um lugar de abandono
com ciprestes na beira da estrada
nunca foi diferente, por meu, tenho apenas
o vento de outono, as tílias destruídas
e a dolorosa certeza de em tudo ter falhado
quando te afastas
uma fina poeira de gelo
cobre os ramos de todas as árvores
e delicadamente
atravessas os destroços
em que deixas tudo o que amaste
não te demores no meu rosto
habita-o uma despedida
um mundo de onde Deus se ausentou
não sei dizer de onde chegam as tuas mãos
mas essa luz não pertence a este mundo
só dedos assim tão finos
poderiam penetrar a espessura da noite
trazendo ainda frescas umas gotas da manhã
sentir o cair das folhas
como uma advertência íntima
o primeiro passo para um encontro
um regresso ao coração
a primavera prossegue
com outras palavras
o discurso ruinoso do inverno
estávamos juntos
mas o meu coração afastava-se em silêncio
como se esperasse a chegada da neve ou de Deus
fizeste da tua vida
uma catedral abandonada
horas esquecidas
em adoração nocturna
pedindo silêncio
a tudo o que perdeste
(..)
o mundo inteiro irreconhecível
o amor a arder por entre as rosas
a chuva no teu rosto é um milagre de cristais
não conheço um relâmpago que não nasça nos teus olhos
a minha vida
caindo
como neve na escuridão
(..)
caminhamos para o silêncio
e para a escuridão indefinível dos bosques
luis falcão, in 'pétalas negras ardem nos teus olhos'
editora assírio & alvim, 2007
4 Comments:
nunca pensei que fosse tão bonito o que ele escreve... já fomos amigos, em tempos...
Que noa surpresa nos deixa o Luís...
é belo, muito belo.
Tenho o prazer de ser seu aluno e de assistir a esta beleza constantemente. Obrigado Mestre.
Enviar um comentário
<< Home