14 março 2007

notas avulsas

1. ontem, ao final da tarde, estive num painel de convidados (representantes do mundo empresarial, por assim dizer) cuja missão era responder a uma espécie de comissão (internacional) de avaliação de uma das nossas principais faculdades de economia & gestão, para fins de 'certificação pedagógica e de competitividade internacional'. ao meu lado, organizações tais como a PT, McKinsey, EDP, L'Óreal, Banco Espírito Santo, Associação de Bancos Portugueses - quase todas representadas ao mais alto nível. confesso que quando vi os meus 'colegas' de sessão e olhei para o inquisidor júri, engoli em seco. mas, como é meu timbre, a adrenalina empurra-me para a frente e lá fiz a abertura da sessão (em termos de ter sido o primeiro a dar o meu testemunho). às tantas, já não sabia bem se quem estava a ser avaliado era a faculdade em causa ou.. eu próprio. a constatação importante é que à saída, de braço quase dado com o ex-CEO de uma das mais influentes empresas portuguesas, pensei para comigo: 'mas que raio é que eu estou a fazer no estaminé onde presentemente trabalho' ? sou melhor tratado por pessoas que não me conhecem e são verdadeiramente importantes no meio em que se movem que por meia-dúzia de imbecis que se acham reis e senhores da minha paróquia. não me entendam mal, não estou a vangloriar-me, apenas a desabafar uma coisa óbvia para mim - há níveis e níveis, em tudo na vida. e ontem 'vi claramente visto' que, profissionalmente, tenho que seguir em frente. fim de ciclo, ponto final. parágrafo.

2. de fugida, ao passar os olhos pelo escaparate de jornais, li na capa do 'público' que a tutela alegadamente tratou com os pés o até aqui director do teatro nacional de são carlos. não sou conhecedor de ópera, mas acompanho quase tudo o que se vai escrevendo e sei, com razoável segurança, que o senhor paolo pinamonti ergueu dos quase escombros uma instituição renovada, com uma programação regular e interessante, arriscando em encenações vanguardistas bem-sucedidas e com retorno junto do público, crítica e, de certa forma, dos 'opinion makers' internacionais (que ditam o que está 'in', como bem sabemos). pois bem, estamos perante mais uma fotonovela de má índole e pior pinta. despedimento alegadamente selvagem, discursos sinuosos, meias-verdades, falta de diplomacia no trato, manipulação q.b. (a eterna questão de quanto custa ao estado cada espectador - nem me vou dar ao trabalho de desmontar intelectualmente este falacioso argumento..), etc. à portuguesa, concerteza. e lá ficamos todos mais pobres, sem dar por isso. mas o que nos vale é saber que podemos sempre contar com a tvi ('a bela e o mestre' é.. de mestre!), o festival da canção e o pujante teatro de variedades.

3. tenho andado pelos cinemas, a ver se o tempo passa mais depressa. ontem vi um filmezinho independente que tem criado um certo 'hype' - 'half nelson / encurralados'. é caso para dizer: 'half nelson, mas filme inteiro'. não sendo uma obra-prima (que não é, nem pretende ser), é suficientemente inteligente e subtil para nos fazer sorrir e pensar (curioso o nome da produtora: think films..). o protagonista tem, de facto, uma magnífica interpretação (sabiam que foi colega da britney spears no disney show americano há uns valentes anos atrás ? - pois é, as mesmas partidas dão lugar a múltiplos caminhos..), sempre no limiar entre o underacting (técnica de representação) e o underliving (aquilo que pretende representar).
ele: - i am an asshole..
ela: - no, you are not. you are just a big baby!
ele: - ok, then i am just a big asshole baby!