06 novembro 2006

hyde park by the dawn

ela era uma máquina:
calculava probabilidades como quem descasca cebolas
- à espera da lágrima inevitável (mas descartável).
as marés nas suas pálpebras
eram como tempestades sem som:
puro artíficio visual
longínquo e lânguido,
que desperta sorrisos de condescendência
e olhares de falso espanto, próprios
de quem se sabe em porto seguro.
como as tempestades cálidas de turner
que deixamos nas paredes da national gallery,
enquanto, modestamente felizes,
nos afastamos com envergonhado júbilo.
tudo esqueceremos (até o teu rosto)
- qu'amanhã é outro dia, e assim é que está bem.
a vida? a vida fica para outro dia.

o verso 'a vida? a vida fica para outro dia', foi escrito por manuel de freitas, um jovem poeta (e crítico literário) que vale a pena descobrir.