ontem como amanhã.
30 setembro 2011
29 setembro 2011
the hunting
quando cai a noite e é sexta-feira, os lobos, em alcateia,
sobem aos bairros - no singular -, à procura de um alvo
abstracto, de uma ideia de caça, da função instintiva que
sabem correr-lhes no sangue, desde que abriram os olhos.
como em tudo na natureza, há lobos solitários, afastados
pelos seus pares (ou que simplesmente se afastaram) desse
modo de vida ancestral, competitivo, talvez até banal,
no seu cortejo de tiques e rituais de quem treina o dente.
lembrei-me de ti, que provavelmente nem existes, quando
escrevia aquelas palavras ali de cima. lobos e homens são,
se pensarmos bem, uma e a mesma coisa - seres solitários
deitados à vida, sem clemência, orientação, guias práticos.
isto aplica-se, claro, também às raparigas. por isso, dizia,
me lembrei de ti. enfrascada em enciclopédias, enfiada decerto
em cinematecas reais ou inventadas, protegendo-te das coisas
do mundo, lutando impiedosamente contra o comando do destino.
há na resistência uma ética muito própria. um grito que perturba
os lobos, os homens, as mulheres, todos aqueles que preferiram(?)
deixar de lutar contra o sangue. estão no seu direito e talvez
venham a ser declarados vencedores, aos pontos, no ringue-mor.
admito que sim. contudo, concede-me a dúvida. deixa-me dizer-te
que prefiro, desde tenra idade, a solidão habitada por pontos
luminosos que é a tua. essa constelação de animais e de homens
e de raparigas solitárias que acendem cigarros frios contra os
céus nocturnos. estão em toda a parte: nas ruas por onde passo,
ao volante do carro; nas mesas das casas de pasto que subsistem;
nas últimas filas das salas de cinema; nalguns jardins matinais;
até sentados à mesma mesa que nós, escondidos do mundo e, creio,
de si próprios. eu também nunca li a balada do café triste, mas,
uma coisa eu sei: há constelações invisíveis que nos fulminam,
tão extrema é a sua - a tua - a nossa
imperial beleza.
quando cai a noite e é sexta-feira, os lobos, em alcateia,
sobem aos bairros - no singular -, à procura de um alvo
abstracto, de uma ideia de caça, da função instintiva que
sabem correr-lhes no sangue, desde que abriram os olhos.
como em tudo na natureza, há lobos solitários, afastados
pelos seus pares (ou que simplesmente se afastaram) desse
modo de vida ancestral, competitivo, talvez até banal,
no seu cortejo de tiques e rituais de quem treina o dente.
lembrei-me de ti, que provavelmente nem existes, quando
escrevia aquelas palavras ali de cima. lobos e homens são,
se pensarmos bem, uma e a mesma coisa - seres solitários
deitados à vida, sem clemência, orientação, guias práticos.
isto aplica-se, claro, também às raparigas. por isso, dizia,
me lembrei de ti. enfrascada em enciclopédias, enfiada decerto
em cinematecas reais ou inventadas, protegendo-te das coisas
do mundo, lutando impiedosamente contra o comando do destino.
há na resistência uma ética muito própria. um grito que perturba
os lobos, os homens, as mulheres, todos aqueles que preferiram(?)
deixar de lutar contra o sangue. estão no seu direito e talvez
venham a ser declarados vencedores, aos pontos, no ringue-mor.
admito que sim. contudo, concede-me a dúvida. deixa-me dizer-te
que prefiro, desde tenra idade, a solidão habitada por pontos
luminosos que é a tua. essa constelação de animais e de homens
e de raparigas solitárias que acendem cigarros frios contra os
céus nocturnos. estão em toda a parte: nas ruas por onde passo,
ao volante do carro; nas mesas das casas de pasto que subsistem;
nas últimas filas das salas de cinema; nalguns jardins matinais;
até sentados à mesma mesa que nós, escondidos do mundo e, creio,
de si próprios. eu também nunca li a balada do café triste, mas,
uma coisa eu sei: há constelações invisíveis que nos fulminam,
tão extrema é a sua - a tua - a nossa
imperial beleza.
28 setembro 2011
26 setembro 2011
23 setembro 2011
'from here to eternity'
um verão que ainda arde
fogo sobre fogo, escreves,
numa manobra de aproximação
votada ao mais do que óbvio fracasso.
não haverá nunca palavras exactas
para verter em linguagem o fósforo
de dois corpos, incendiados incendiários,
numa luta insone e exangue,
o mercúrio estoirando o termómetro,
tudo ou nada - mas nunca morno.
ou seja: novamente vivos estamos,
levantando em glorioso vôo picado
do que ainda há pouco jazia morto.
um verão que ainda arde
fogo sobre fogo, escreves,
numa manobra de aproximação
votada ao mais do que óbvio fracasso.
não haverá nunca palavras exactas
para verter em linguagem o fósforo
de dois corpos, incendiados incendiários,
numa luta insone e exangue,
o mercúrio estoirando o termómetro,
tudo ou nada - mas nunca morno.
ou seja: novamente vivos estamos,
levantando em glorioso vôo picado
do que ainda há pouco jazia morto.
22 setembro 2011
a banda mais célebre de athens terá chegado ao fim, mais de trinta anos volvidos sobre o início da aventura dos quatro rapazes. do pop rock indie e quase low fi ao indie de estádio, com direito a hinos e tudo, foi um percurso desigual, feito de muitos altos e de alguns baixos, mas que nos deixa um quase irrepreensível legado com uns quantos discos de elevada qualidade e dezenas de canções que entram directamente para o cânone destas coisas da música moderna.
nunca foram 'a minha banda', mas há um disco muito especial que quase, quase chegou lá. estávamos ainda no início dos anos noventa e o disco chamava-se 'automatic for the people'. espécie de desafio semântico, uma vez que se a pop tem irremediavelmente um apelo quase automático e 'mainstream', a verdade é que um disco crepuscular, sombrio, maravilhosamente melancólico como este nunca seria verdadeiramente um disco destinado a ser algo realmente 'automatic for the people'.
o alinhamento do disco é de primeira água, do princípio ao fim. deixo aqui, como não podia deixar de ser, a canção das canções dos REM (é deles que falamos): 'nightswimming'.
o resto já é história. a grande, que é a deles. e a pequena, que é a nossa.
obrigado, rapazes.
21 setembro 2011
20 setembro 2011
16 setembro 2011
15 setembro 2011
13 setembro 2011
12 setembro 2011
11 setembro 2011
09 setembro 2011
08 setembro 2011
06 setembro 2011
uma boa forma de me conhecerem um bocadinho melhor. e também uma pungente autobiografia, ainda que por intermédio de interposta pessoa (felizmente bem mais dotada, artisticamente, do que este vosso criado).
Feature Films
Le Signe du Lion (1959)
Contes Moraux
La Boulangere de Monceau (1963)
La Carriere de Suzanne (1963)
La Collectionneuse (1967)
Ma Nuit Chez Maud (1969)
Le Genou de Claire (1970)
L’Amour L”Apres-midi (1972)
Comedies et Proverbes
La Femme de L’Aviateur (1980)
Le Beau Marriage (1982)
Pauline a la Plage (1983)
Les Nuits de la Pleine Lune (1984)
Le Rayon Verte (1986)
L’Ami de Mon Amie (1987)
Contes des Quatre Saisons
Conte de Printemps (1990)
Conte d’Hiver (1992)
Conte d’Ete (1996)
Conte d’Automne (1998)
Non Series
La Marquise d’O... (1976)
Perceval le Gallois (1978)
Quatre Aventures de Reinette et Mirabelle (1987)
L’Arbre, le Maire et la Mediatheque (1993)
Les Rendez-vous de Paris (1995)
L’Anglaise et le Duc (2001)
Triple Agent (2005)
Les Amours d’Astree at de Celadon (2007)
Feature Films
Le Signe du Lion (1959)
Contes Moraux
La Boulangere de Monceau (1963)
La Carriere de Suzanne (1963)
La Collectionneuse (1967)
Ma Nuit Chez Maud (1969)
Le Genou de Claire (1970)
L’Amour L”Apres-midi (1972)
Comedies et Proverbes
La Femme de L’Aviateur (1980)
Le Beau Marriage (1982)
Pauline a la Plage (1983)
Les Nuits de la Pleine Lune (1984)
Le Rayon Verte (1986)
L’Ami de Mon Amie (1987)
Contes des Quatre Saisons
Conte de Printemps (1990)
Conte d’Hiver (1992)
Conte d’Ete (1996)
Conte d’Automne (1998)
Non Series
La Marquise d’O... (1976)
Perceval le Gallois (1978)
Quatre Aventures de Reinette et Mirabelle (1987)
L’Arbre, le Maire et la Mediatheque (1993)
Les Rendez-vous de Paris (1995)
L’Anglaise et le Duc (2001)
Triple Agent (2005)
Les Amours d’Astree at de Celadon (2007)
05 setembro 2011
arrastando
(
u
m
h
o
m
e
m
c
a
i
)
arrastando, dizia,
o estadunidense e marmóreo orgulho,
o estadunidense e marmóreo orgulho,
feito de betão, aço e vidro
esmagados como o mais frágil papelão.
nesse dia de setembro,
caíram outras duas torres,
ou talvez um rei e uma raínha,
metáfora ainda mais óbvia - paciência..
hoje, quando o skyline de manhattan
chora, em silêncio, os seus dois braços decepados,
lembro-me de nós os dois,
nessa já tão longínqua barcelona,
e das cinzas em que, sem nos darmos conta,
tão brutalmente nos transformámos.
(a bem dizer, entre tantos e tantas, quem ligaria
a mais duas ou menos duas casualties of war?)
de certa maneira, a minha primavera-verão de 2011, condensada em 5 minutos e 27 segundos
(como) uma sombra gémea, isso mesmo, uma sombra gémea.
who is who? como diziam os outros, nos idos de 90: nevermind..
02 setembro 2011
'era uma casa, como dizer, absoluta'.
herberto helder
misturamos um frame do filme 'à flor do mar', de joão césar monteiro (um dos poucos poetas malditos portugueses, por interposta arte - a cinefilia), com um verso de herberto helder. e talvez nos aproximemos, mas apenas aproximemos, de qualquer coisa indizível, mas que teima em, mas que quer, ser dita.
01 setembro 2011
about september
talvez tenha sido goethe quem escreveu que 'as pessoas tristes são perigosas'. por isso, nada como andarmos voluntariamente algemados. digamos que, por vezes, há que decretar, sem contemplações ou indulgência, medidas auto-preventivas. uma espécie de dois em um, misturando sanidade privada com saúde pública, a bem da micro-nação que somos e da macro-nação propriamente dita.
do alto do castelo alto, olhando o mundo que amanhece, lembra-se de filmes a preto e branco japoneses, desse mundo que já não existe, para além da película (registo físico), para além da memória (registo impressivo), para além do sonho (registo onírico).
setembro 'is here again'.
talvez tenha sido goethe quem escreveu que 'as pessoas tristes são perigosas'. por isso, nada como andarmos voluntariamente algemados. digamos que, por vezes, há que decretar, sem contemplações ou indulgência, medidas auto-preventivas. uma espécie de dois em um, misturando sanidade privada com saúde pública, a bem da micro-nação que somos e da macro-nação propriamente dita.
do alto do castelo alto, olhando o mundo que amanhece, lembra-se de filmes a preto e branco japoneses, desse mundo que já não existe, para além da película (registo físico), para além da memória (registo impressivo), para além do sonho (registo onírico).
setembro 'is here again'.