29 julho 2011



lovebird

rapaz da caligrafia negra
esperava por aviões de papel
impossivelmente polinizados
por esse estranho amor por ela

enquanto

a negra caligrafia do rapaz
esperava no espaço que era (d)ela
por mil aeroplanos em flor
e pelo amor dele nela.

28 julho 2011



sonhava escrever o livro definitivo, o verso-universo,
arrasar e reinventar toda a literatura.

nunca mais o vi, no bairro em que nos encontrávamos dantes.
o mais certo é ter já desistido, por esta altura.

27 julho 2011


black lips

há uma banda de rock chamada black lips.
(enquanto procurava a tradução mais certeira,
ia escrevendo mentalmente este pequeno poema.)

black lips pode querer dizer tanta coisa, tanta.

como tudo afinal - assim nos ensina a vida.
por exemplo: lábios pisados.

ah, espelho meu,

sempre eloquente máquina de tradução.

ou de disfórica revelação.

26 julho 2011


sinfonia nº 3, de henryk górecki

esta tarde,
deitei-me sobre a chaise longue,
e escutei um mundo,
inteirinho,
dentro de um búzio:

o lamento de uma mãe,
e a esperança de uma filha,
escrevendo as suas últimas palavras,
luminosas e exaltantes,
a partir de uma cela da gestapo.
(infelizmente, a realidade, não raro,
entra-nos poesia adentro..).

as lágrimas que me partiram
são as mesmas que,
por uma estranha alquimia,
me obrigam agora a escrever,
ou melhor, a dar testemunho.

todos sabemos que
nunca se regressa igual de certas coisas.

desta beleza dorida e metafísica, seguramente que não.

(..)

entre nós e as palavras, o nosso dever falar.*



* verso de mário cesariny

25 julho 2011



hoje, sonhei com um homem grandalhão que arrumava desajeitadamente carros, num bairro da cidade. sonhei com um homem que tinha sido pugilista, num país eslavo, há já umas quantas décadas. um homem que desse tempo guarda só o porte, ainda enxuto, apesar de quebrado pela ferrugem do tempo. um homem que era temido e amado, em doses iguais, mas por pessoas diferentes. hoje, sonhei com um homem que usava uma t-shirt negra, que dizia 'par délicatesse j'ai perdu ma vie' - as célebres palavras-epitáfio de rimbaud. hoje, sonhei com um homem que provavelmente não sonhou comigo, mas não faz mal. demorámos a entender que não somos a medida de todas as coisas, apesar de medirmos todas as coisas, com uma escala feita de afectos e de outras coisas mais. ao sonhar com um homem que nem sequer saberia explicar o que dizia a sua t-shirt, pensei, mais uma vez, em como esse grande livro que nunca escrevi está já, afinal, escrito. ou não fosse esta uma personagem ready-made, prontinha a servir, com o importante senão de que existe no nosso mundo. não tem morada, mas tem biografia, um nome, um passado, talvez ainda um futuro. uma t-shirt negra e aqueles olhos tristes que não rimam com as mãos de boxeur.

- mas rimam contigo.. - rematou o espelho.

22 julho 2011


para quem gosta de semiótica. é que este é, provavelmente, o mais belo título de um disco, na história da música popular moderna. e porque, às vezes, the nothing turns itself inside-out. ou seja: do nada se faz tudo. reivento-te. reivento-vos. reinvento-me.

para quem gosta de semiótica. é que washed out é como nós nos sentíamos. within and without. her. or them.

para quem gosta de semiótica. é que este blog não é uma blague. pelo contrário, aqui it's all true.


flowers of the world, unite and take over.

20 julho 2011



nothing but flowers.

19 julho 2011



summer 8


summer 7

18 julho 2011

em tudo um travo a coisas antigas.
como esse verão indiano
que nunca mais cantámos de mãos dadas,
até fazer sangue.
e nele nos desfazermos.
também tu te levantarás, lázaro,
a uma simples palavra minha,
desse lençol frio de trevas:
-levanta-te!, homem, e caminha.


summer 6


summer 5


summer 4

15 julho 2011



summer 3


summer 2

14 julho 2011



summer 1

13 julho 2011



summer reading for a better living.

12 julho 2011

As plantas acenavam ao vento de Agosto, nas suas hastes finas e verdes. E disse-me a mais faladora de todas, alta e trigueira:
- Dás-me dez anos da tua vida?
Eu só tenho cinco anos, pus-me a contar pelos dedos, vi que ia ficar com muito pouco.
- Dou - disse eu.
E ainda hoje, que nunca mais soube de mim, vou com o vento, balouçando. E Agosto é todo o ano para mim.


Ruy Belo

11 julho 2011



ghosts of a good thing are ghosts or a good thing?

09 julho 2011






'nunca é demasiado tarde para se ser o que se poderia ter sido.'

george elliot

01 julho 2011



parafraseando um querido amigo: adeus, até ao meu regresso ;).

nós não queremos VER 'le rayon vert'.

nós queremos SER 'le rayon vert'.